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Entrevista: Maurício Kanno

por - maio 10, 2014

Oi, gente, tudo bem?


Hoje eu trago para vocês a primeira entrevista aqui do blog, especialmente para a ação "Eu Valorizo a Literatura Nacional"! O entrevistado é o Maurício Kanno, autor de "A Menina que Ouvia Demais". Eu o conheci durante o III Encontro de Blogs de  Letras e, fui ao lançamento do livro dele, então já garanti meu exemplar autografado!




Como foi seu primeiro contato com a leitura? Você já lia na infância?

Lembro com carinho dos livros da Coleção Vagalume, da Editora Ática. O primeiro livro na minha memória é “Os Barcos de Papel”, de José Maviael Monteiro.

Outro é “As Minas do Rei Salomão”, de Rider Haggard, adaptado por Werner Zotz, publicado pela Scipione na Série Reencontro. Lembro-me até de, quando minha casa foi assaltada, eu ter ficado com esse livro na mão o tempo todo, mesmo com os bandidos rendendo minha família!

Esse foi um dos raros livros que li mais de uma vez, ao lado de “As Aventuras de Xisto”, de Lúcia Machado de Almeida (novamente série Vagalume).

De todo modo, meus parentes sabiam de meu gosto pela leitura, e minha vó e tias me davam livros como esses, que eu adorava. Outro livro marcante foi “A Gruta do Tempo”, da Série Enrola e Desenrola, Ediouro, em que você define seu caminho tomando decisões ao longo da história. E os quadrinhos foram outra leitura beeem frequente, rs. 




Quando você começou a escrever? Quando decidiu ser autor?

Eu guardo poemas que escrevi desde os 12 anos de idade. Um dia quero publicar tudo isso, que considero relíquias pra mim. Ao lado deles, há redações de escola (narrativas) que também gostei e guardo, desde 1996, 1999 (eu tinha 14 a 17 anos). Durante o colegial, tentei escrever romances mais de uma vez, mas sempre parava depois de algumas páginas no caderno...

Tentei publicar um poema romântico numa antologia da Casa do Novo Autor, mas descobri que era muito caro pra mim e desisti. Só depois de muitos anos enfim tive o estalo que não morreu mais para escrever um romance, quando estive internado no hospital, em 2010. Mas o desejo vago de ser escritor acho que sempre existiu em mim.

Quais são suas inspirações para escrever? Tem algum autor como referência?

Olha, tem estes 10 autores que indiquei uma vez como alguns dos que mais me marcaram, não que necessariamente eu me baseie neles, mas sem dúvida de alguma forma devem me influenciar.

Nessa lista, citando alguns dos livros deles, estão, por exemplo, Marcos Rey, Paulo Coelho, Tolkien, J.K. Rowling, George Orwell, Aldous Huxley... e os autores de “O Pequeno Príncipe”, “Pollyanna” e “Heidi”, além do “Barcos de Papel”. Faço questão de citar livros tidos como “simples” ou “bobinhos” e autores nem um pouco “cult”, massacrados pelos críticos de plantão. Nesta lista, talvez só Orwell e Huxley se salvem para alguns leitores mais críticos, rs.

Mas na verdade, creio que me inspiro mais fora do universo literário. Por exemplo, nas animações, como as japonesas; e os quadrinhos, como da Turma da Mônica. Recebi muitas críticas de meus primeiros leitores do meu primeiro romance, por exemplo, ainda antes de publicá-lo, de que havia muitas onomatopeias e expressões tipicamente encontradas nos gibis, hehe. Como “POU”, “hehe”, “HAHAHA”, ou ainda linguagem de internet, como “rs”. E, claro, penso também nos filmes que assisti e nas situações de meu dia a dia.

Qual foi sua inspiração para escrever “A Menina que Ouvia Demais”?

Conto um pouco sobre isso aqui neste vídeo, produzido para uma gincana do Sesc na Bienal do Livro de 2012:


Basicamente, como eu estava no hospital internado, pensei nas limitações que eu estava sofrendo com minha doença e minha falta de liberdade... E fui criando associações com outros tipos de limitações e buscando alguma liberdade pela narrativa. Inventando outros mundos e possibilidades.

E há referências para brincadeiras metalinguísticas das HQs da Turma da Mônica e às frustrações de um profissional que lida com textos e criação, mas não pode necessariamente ser ele mesmo o autor – eu mesmo, que trabalhei uns bons anos como jornalista, pude sentir isso. 

Seu livro tem algumas ilustrações, todas feitas por você. Como foi a preparação para escrever o livro?

Suponho que a pergunta seja sobre na verdade a preparação para desenhar o livro? Se for isso, de fato eu não esperava ter a capacidade de ilustrá-lo quando comecei a escrever. Mas o ímpeto para me dedicar às artes literárias em 2010 – motivado em boa parte por minha doença – também me fez dedicar-me às artes visuais. Então estudei Desenho por 1 ano na Quanta Academia de Artes, e lá também estudei Ilustração por outro ano e Perspectiva por meio ano, além de cursos rápidos de férias.


Imagem retirada de Camaleão

Você pensa em escrever mais algum livro? Poderia nos contar um pouquinho sobre o que está planejando para os próximos anos?

Sim, meu desejo megalomaníaco é escrever muitos e muitos livros. Já escrevi alguns capítulos do próximo, em que imagino um duelo entre duas figuras famosas reinterpretadas e associadas a uma época festiva comemorada no Brasil e no mundo... Mas acho melhor não revelar muito por ora, rs. Também posso adiantar que fiz uma grande pesquisa sobre várias regiões do Brasil porque quis juntar personagens de várias partes do país nesse livro.

Também estou organizando um livro de contos e poemas de vários autores do Brasil tendo como temática os direitos animais. Reuni mais de 70 textos literários nessa iniciativa, vamos ver quando sai!

Quais são as maiores dificuldades que um autor brasileiro enfrenta hoje em dia?

Isso é meio chavão, mas enfim: (1) o público leitor não tem costume de ler os brasileiros, (2) o brasileiro não lê muito livro, mas isso parece estar melhorando um pouco, (3) a remuneração das editoras para os escritores é muito baixa, por volta de 8%, quando existe. Fora isso, são as dificuldades padrão para qualquer início de carreira, a questão de ter seu primeiro livro aceito pelas editoras.

Eu acabei publicando pra começar com a Multifoco, que tem essa abertura com autores iniciantes, com pequenas tiragens. Mas também não recebo nada pelos livros que vendo, para deixar o preço mais acessível. Tive minhas dificuldades, mas funcionou.

Como você vê a literatura brasileira atualmente? Quais são suas expectativas quanto à ela?

Olha, pra ser sincero não tenho acompanhado como deveria a nossa literatura publicada em livros. Tenho lido mais contos de outros autores iniciantes que estão começando como eu, como nos projetos coletivos de que faço parte. Tive que tomar uma decisão por usar o escasso tempo para algo: então tentei me dedicar mais a escrever, por mais pecaminoso que isso pareça. E busco traduzir toda a minha experiência com histórias para minha escrita, não importa de que formato elas tenham vindo.

De todo modo, não ligo muito para os escritores figurões que ganham destaque nos jornais de Cultura; tenho gratas surpresas em saber que há muitos jovens autores como eu que escrevem interessantes histórias sobrenaturais, de fantasia e ficção científica, que são os gêneros que mais aprecio.

Qual a importância dos blogs literários hoje em dia, na sua opinião?

Os blogs literários são uma fonte muito importante para que as pessoas se aproximem da literatura de uma forma mais pessoal e personalizada. Eu mesmo falei que não ligo muito para o que os grandes jornais têm destacado. As indicações de amigos e blogueiros nesse sentido podem ser uma boa para mim e outros com interesses mais específicos.

Tem alguma dica para quem tem vontade de publicar um livro?

As editoras que promovem antologias com vários autores têm sido uma maneira bacana de os autores começarem a publicar algo, como seus contos. Comecei a participar delas também ano passado, com um conto numa antologia de terror/sobrenatural da Editora Andross. Para este ano, devo publicar contos em mais seis antologias. Tem muitas seleções acontecendo sempre, indico acompanhar o post específico na comunidade do Facebook “Escritores Ajudando Outros Escritores”.

Para publicar o livro-solo, vale buscar entre essas mesmas editoras (como a Buriti e Literata) e também outras como a Multifoco, Patuá, Wish, Grimório. É quase impossível publicar numa editora mais famosa logo de cara. Tentei um monte, mas não consegui. Recomendo também fazer o curso da escritora TalitaRebouças sobre o mercado editorial.

Sei que essa pode ser uma pergunta difícil, mas qual seu livro preferido?

Rs, indiquei 10 autores lá em cima... Se for pra escolher só um agora, hoje, vou ser bem piegas: “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry.

Qual livro nacional você recomenda? Por quê?

Se puder indicar um livro em quadrinhos, indico o do amigo Gus Morais: “Privilégios e Outras Histórias”. Suas narrativas são muito sensíveis e dinâmicas, com visual muito bonito.

Em texto puro, indicaria os de Felipe Castilho, como “Prata, Terra e Lua Cheia”, que acabei de comprar dele em evento de blogs literários... Mas não li ainda então não posso recomendar com consciência. Mesmo assim, arrisco pela proposta interessante de reinterpretar o folclore nacional.

Você gostaria de deixar algum recado para os leitores do blog?

Já falei demais! Rs. Valeu o interesse, qualquer coisa, deixo meu e-mail à disposição: mauricio.kanno arroba gmail.com. Deixo também meu blog, em que estou semanalmente contando novidades sobre minhas produções e dando outras dicas; e meu portfólio de ilustrador . Além do site do projeto Enlaces Literários, em que eu com uma equipe de outros 5 autores publicamos contos conectados entre si duas vezes por semana. 

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